Sou como sou e pareço
(às vezes) melhor do que isso,
pois, na voz que em mim ressoa,
sou a gaivota que voa
presa à vela do feitiço.
Invento no meu silêncio
- que é do tamanho do mundo!,
E quando estou indeciso
eu falo, porque é preciso
fingir que não vou ao fundo.
Sou actor de profissão;
tanjo esta viola estranha
Em que o harpejo é o personagem
que conquistou a viagem
dum mar que não acompanha.
Dou-me com seres decentes
E indecentes ( murmuram!)...
Mas que importa ao marinheiro
Se sabe que, com dinheiro,
todos eles se misturam...!
Compro e vendo o olhar do sonho
Por amor do realejo
e penso no que seria
se, naquela fantasia,
fosse aquele o meu desejo.
Mas chego, todas as noites,
preso à eterna solução
de arrumar, no desencanto,
a minha alma a um canto
do quarto da solidão.
Deus, em certa hora, um dia,
despir-me-á do que visto!
Mas até lá dou e peço...
Sou como sou e pareço
(às vezes) pior do que isto.
Vasco de Lima Couto
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