sábado, 10 de março de 2007

som da tinta

Há muito tempo que queria ir ao Som da Tinta, uma livraria em Ourém que promove eventos culturais, se assim lhe posso chamar. Hoje Manuel Freire falava de António Gedeão.

A caminho de Ourém tentei fotografar o castelo, mas com o automóvel em movimento... esta ficou razoável... não é o castelo... fica para a próxima

a livraria é fácil, fácil de encontrar... pertinho desta estátua, "ao povo de ourém"...


Manuel Freire falou de António Gedeão (Rómulo de Carvalho), declamou alguns poemas, cantou outros...
O espaço é simpático, mas hoje tornou-se pequeno. Será sempre assim? Muita gente em pé... ai as minhas costas...

na fotografia Manuel Freire e Sérgio Ribeiro

Pedra Filosofal


Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.


Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.


Eles não sabem que o sonho
é tela é cor é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.


Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.


António Gedeão
Movimento Perpétuo - 1956

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